Encontro com vários especialistas esta sexta-feira em Lisboa
Pais do mesmo sexo tendem a repartir mais a educação dos filhos do que os casais heterossexuais, revelou um estudo norte-americano, que concluiu ainda que a felicidade do casal é o aspecto mais determinante para o bem-estar da criança.
Estas são as principais conclusões de um estudo realizado nos Estados Unidos, que abrangeu 104 famílias, formadas por casais compostos por homem e mulher, dois homens ou duas mulheres, e os filhos.
«A principal conclusão é que as crianças, de uma forma geral, estão muito bem», disse à agência Lusa uma das responsáveis do estudo, investigadora norte-americana Charlotte Patterson (Universidade da Virgínia), que participa esta sexta-feira, em Lisboa, na primeira conferência internacional sobre parentalidade lésbica, gay, bissexual ou transgénero.
A professora universitária, considerada uma referência internacional na investigação sobre psicologia na orientação sexual, descreveu que, no estudo, os pais, as crianças - entre os três e os quatro anos - e os professores ou educadores dos menores foram entrevistados e a sua dinâmica familiar foi registada em vídeo.
«Um dado interessante é que os casais do mesmo sexo parecem partilhar a educação dos filhos de forma mais igualitária do que os casais heterossexuais, mais marcada por uma sexualização dos papéis, com a mãe geralmente mais envolvida no acompanhamento dos filhos e o homem mais absorvido no trabalho», referiu Charlotte Patterson.
Nos casais homossexuais, referiu, «ambos os pais provavelmente trabalham e ambos estão envolvidos de forma bastante equilibrada».
Esta diferença na educação parece não ter qualquer impacto sobre os menores, sublinhou a responsável, salientando, no entanto, que é difícil tirar conclusões dada a idade das crianças estudadas.
Segundo a investigadora, «há muitas questões que têm efeito nas crianças: até que ponto os pais se dão bem e qual é o seu grau de satisfação com o seu relacionamento», apontou.
«As crianças cujos pais estão satisfeitos parecem estar bem, melhor do que os filhos dos casais que não estão satisfeitos nas suas relações», revelou.
Especialistas nacionais e internacionais reúnem-se em Lisboa para debater a parentalidade por casais homossexuais, pretendendo alertar para a falta de legislação em Portugal que reconheça as duas figuras parentais, o que, segundo a ILGA, discrimina a criança.
O encontro pretende «eliminar qualquer dúvida que possa restar» sobre a «capacidade de casais de homens gays e mulheres lésbicas» para educarem uma criança, disse à agência Lusa Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA.
Segundo o responsável, «há mais de uma década que existem consensos nas várias áreas científicas» sobre esta matéria e que «são apoiados por associações profissionais das mais diversas áreas, como psicologia, pediatria, antropologia».
A primeira conferência internacional sobre parentalidade das famílias LGBT, organizada pela ILGA e pelo Centro em Rede de Investigação do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), quer ainda chamar a atenção da classe política para as situações em que a criança «continua sem ver reconhecida as duas figuras parentais do ponto de vista legal», devido à falta de legislação em Portugal.
«Há já várias famílias com crianças que só têm legalmente um pai ou uma mãe. Na realidade existem duas mães ou dois pais, mas depois a lei só reconhece uma dessas pessoas», disse Côrte-Real.
Fonte: Tvi